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Trabalhando com um Editor

"Você não pode ver sua própria escrita objetivamente. É impossível. Uma vez que você deu vida a ela, você não pode ver suas falhas e imperfeições"

Esta é minha frase preferida do artigo Como trabalhar com um Editor da Kathy Edens no medium do ProWritingAid. Ela define em poucas palavras o porquê de convidar um editor para um livro. 

Em tempos onde cada vez mais as publicações independentes, pequenas editoras e financiamentos coletivos de projetos estão dando certo, é preciso lembrar o porquê de ter um editor. Mesmo que freelancer. E muita gente pode até saber da necessidade, mas não por onde começar e como se dá essa relação escritor-editor. 

Existem diversos tipo de edição. Diferentes estilos, limites, éticas e costumes. O meu estilo de edição é bastante parecido com a função de Editor de Desenvolvimento. Num misto muito pessoal de leitura crítica + edição. 

Meu objetivo é pegar um texto e conferir se ele cumpre sua função de coesão, clareza e se é uma boa história. Ela também interfere no arco dramático (os acontecimentos e seu tempo e ritmo) e confere se não há infodump ou sobras de texto sem necessidade.Esta etapa pode envolver cortar parágrafos, mudar palavras de lugar e até cortar capítulos. Também é minha função desenvolver o Documento editorial, muito importante em selos com mais de uma edição. 

Em jogos eu preciso estar muito mas atenta em passar uma mensagem clara, conferir sensibilidades e conferir todos os pontos de uma boa ambientação.

exemplo de edição Em tempos de Google drive, meus comentários aparecem num card no canto do texto.

Depois desta etapa o texto volta para o autor, que vê as anotações e altera, exclui e adiciona tudo de acordo com as recomendações e necessidades. 

Muitos editores não fazem isso, especialmente editores de revistas ou editoras que focam em imprimir, as não tão conhecidas aqui "Vanity Press". O objetivo desses editores é fazer com que os textos saiam rápido. Então fica por conta do autor entregar o texto já editado e revisado e tão perfeito como pode estar. 

É um trabalho que me orgulha muito e que eu estudei muito para desenvolver. Requer leitura, estudo e uma visão ampla. Junto com o Revisor e o escritor, o Editor quer fazer com que o livro seja impresso em sua melhor forma possível. É uma garantia, uma necessidade.

Pensando nisso, talvez o caminho tenha sido bem longo até aqui. 
Quando eu era mais nova, minha mãe, a Elda e minha avó cozinhavam muito. Muitas comidas e muitos tachos cheios de doce. Com o tempo, minha avó perdeu um pouco do paladar, o que é bem comum na velhice. Assim ela pedia que alguém experimentasse suas receitas. Fosse um doce no tacho, fosse um quibe sendo passado no processador e temperado.

"Vem aqui vê se tá sem doce."

Com o costume e com o tempo isso virou uma mania. Minha mãe ainda sempre pede para alguém experimentar quando ela faz alguma receita mais complexa. Eu nunca recusei esta deliciosa tarefa. Experimentar receitas e ajudar a ajustar um pouco do doce ou se o charuto tem limão o suficiente é sempre uma sorte. 
Assim, aqui estou eu como experimentadora de livros. 

Minha missão é ver se o seu romance tem doce o suficiente, ou se o desafio do seu jogo vai fazer os jogadores se animarem ou fazer cara de azedo. Harmonizar o ácido dos momentos ruins, as macias notas dos momentos de história e a crocância das aventuras, resultando em uma ótima textura final. 
Um livro completo, complexo e delicioso.

PS: No fim das contas, eu sempre consigo fazer uma metáfora com comida.